sábado, 9 de abril de 2011

quantos queres?

Escolhe uma cor, pede ela. E eu escolho. Amarelo. Não sei porquê mas desde criança que escolho sempre o amarelo quando me pedem para escolher uma cor. Em criança cheguei a fazer um "Quantos Queres?" só com a cor amarela. Quantos queres? Oito. Escolhe uma cor. Amarelo.
A Helena nunca escolhia o oito por ser um número par. Escolhia o sete ou o nove. Dessa vez percebeu que não tinha alternativa e acabou por aceitar o cerco que eu lhe fizera. Quantos queres? Sete. Escolhe uma cor. Amarelo. Abri o origami onde estava escrito a palavra "bonita". Fugi antes de lha mostrar deixando o jogo abandonado no chão, e acho que essa foi só a primeira vez que fugi à vontade de Amar.
Fugir a essa vontade tornou-se um hábito, e raramente consegui dizer a uma mulher que a Amava, que a queria, que a desejava. Como fugitivo precisei sempre dum esconderijo qualquer, e encontrei-o no silêncio e numa indiferença que me roía por dentro. Às vezes, a esse silêncio correspondia um sorriso feminino que ainda aumentava mais a dor. A dor de me distanciar tanto do que estava tão perto. Acho que elas sorriam quando me percebiam e, agora que falo nisso, a Helena sorriu-me muitas vezes. Talvez tenha apanhado do chão o "Quantos Queres?" e o tenha lido.
Estamos num mundo merdoso, é verdade, onde a banca privada empobrece todos os dias mais alguém através de esquemas económicos complexos que não são explicados a ninguém. Chegou a vez dos portugueses serem, mais uma vez, ajoelhados perante o poder especulativo desses esquemas. Resta-nos isso: não nos escondermos e sermos felizes. Pelo menos tentá-lo. Quantos Querem?

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